Os desafios da representação gráfica: aspetos teórios e práticos

O Relatório da prática pedagógica evidencia que os alunos adolescentes manifestam dificuldades na representação gráfica de formas, volumes, sombras, profundidade…

A razão fundamental destas dificuldades reside na execução imprecisa do processo sequencial de perceção, registo/construção mental e representação gráfica.

Investigamos os momentos desse processo, recorrendo a instrumentos fundamentais produzidos por Rudolf Arnheim, Donald Hoffman e Phil Metzger.

O enquadramento teórico determinou uma intervenção pedagógica de operacionalização de estratégias de questionamento da qualidade da observação, bem como de promoção de reflexões sobre a mesma. Os alunos evidenciaram o seu entendimento de que o cumprimento desta primeira fase de forma audaz alavanca-nos para um registo mental mais qualificado da matéria observada.

Aplicamos técnicas de representação gráfica, de promoção de uma observação sagaz e de um entendimento majorado da representação das formas, dos volumes e das sombras. No decorrer dos exercícios propostos, os alunos foram alertados para a dificuldade dos erros/ilusões visuais que estremecem o discernimento visual e podem provocar distorções da realidade observada.

Em função dos resultados decorrentes dos exercícios propostos ao longo do ano letivo e dos inquéritos de avaliação registados, a investigação permitiu constatar uma evolução dos alunos na qualidade da observação e na destreza de gestos.

Miguel Sousa Basto

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Consummatum Est – Formalização Artística

O pensamento que ficou gravado em minha memória, após a primeira reunião preparatória para a elaboração de um andor que transportasse condignamente a Cruz durante a procissão, foi criar uma forma que emergisse do singelo e do simbólico. A ideia seria alavancada, sempre partindo de uma estrutura pouco ornamentada. Durante a reunião, mergulhado plenamente nas palavras dos vários ilustres parceiros, interrompi todos os meus apontamentos escritos e num gesto presciente desenhei um paralelepípedo, apenas e só um paralelepípedo. Ao longo de todas as ideias que fluíam entre todos os interlocutores, só consegui mais um pequeno esquisso – uma Cruz. Parei, ouvi, escrevi mas não desenhei mais nada.

Com o tempo a consolidar ideias e com esquissos que de forma recrudescente variavam pouco, decidiu a energia cinética que imprimia no lápis, com mais esforço que audácia, libertar-me da jactância e me agrilhoar sempre ao singelo. Sem gestos telúricos mas serenos e de forma a desenhar um friso central no paralelepípedo, que não exibisse soberba, surgiram umas saliências simples na parte superior e inferior desta estrutura geométrica primária. No friso central que envolve todo este volume geométrico simples, foram colocados, em alto relevo, todos os símbolos presentes na fachada da Igreja de Santa Cruz, que são interrompidos na zona central dos topos do andor pelo brasão histórico desta Irmandade.

Sobre esta base paralelepipédica, nos lados maiores, surge uma pequena elevação até à Cruz, que identifica a difícil subida de Cristo ao longo da montanha que o levaria a crucifixão. Carregando de forma estóica a Cruz que representa a dor e o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo por todos nós, a descida é representada por um tamanho maior e por isso menos íngreme – para tanta dor (subida), faz sentido uma grande esperança (descida). Este desenho, por causa da majoração métrica da descida, descentra naturalmente o posicionamento da Cruz no andor.

A Cruz, colocada no centro da montanha da vida, projeta para a descida, o desenho de um longo caminho de luz que representa a esperança capaz de alimentar a nossa fé e num mundo melhor.

Esta simplicidade só deixava cair na madeira escurecida duas cores: cinza e roxo. A cor cinza, protagonizada pela prata que identifica os símbolos e as passagens bíblicas e litúrgicas da paixão e a cor roxa, num veludo nobre e penitencial, que envolve uma saliência na parte inferior deste andor e simboliza o saio. Este andor irá contemplar o saio roxo, debruado com fio de prata.

Miguel Sousa Basto